A palavra do momento nos mundos da tecnologia e cripto é metaverso. Se você fizer uma pesquisa sobre criptomoedas no Google, é bem provável que você se depare com esse termo e, naturalmente, essas e outras dúvidas podem surgir.
Mas de onde surgiu esse conceito? O que ele significa? E, o mais importante: o que tem a ver com a negociação de criptomoedas?
Em linhas gerais, o metaverso permite que os usuários interajam entre si em diferentes plataformas online de forma democrática, ou seja, o objetivo é que os espaços tenham acesso público (pelo menos em um certo nível).
Para se ter uma noção do impacto que o metaverso já está causando nas grandes empresas de tecnologia da informação, o Facebook já trocou seu nome para “Meta”.
Dessa forma, a Meta – Facebook, Instagram e Whatsapp – define o metaverso como “um conjunto de espaços virtuais para convívio social entre pessoas que não estão no mesmo espaço físico”.
Outras grandes da tecnologia da comunicação já têm um planejamento sólido para investimento em estrutura para o metaverso.
A Meta já anunciou para 2022 a soma de 10 bilhões de dólares em investimentos no Facebook Reality Labs, divisão de Metaverso para o desenvolvimento de hardware, software e conteúdo de realidade virtual. Também segue esse fluxo a Apple e o Snapchat.
Uma pesquisa divulgada pela Revista Exame aponta que, pelo menos, 90% dos brasileiros já transitaram em ambientes virtuais em algum nível. Esse comportamento também indica a busca e disponibilidade de conhecer as novidades tecnológicas, o que os coloca diretamente ligados ao metaverso.
No segundo semestre de 2021 a procura por tokens para o metaverso registrou um significativo aumento e valorização expressiva. Parte dessa movimentação veio de jogos em que o gamer ganha para jogar ou play-to-earn.
Mesmo com esse salto nos números, o impulso não veio somente do setor do entretenimento: artes, medicina, setor imobiliário e outros tipos de aplicações fizeram parte do incremento de visibilidade das operações dentro do metaverso.
O tema metaverso é bastante vasto, mas, com esse artigo, queremos tirar suas dúvidas principais, sobretudo no quesito investimento nesse mercado que está se mostrando bastante promissor.

Como o metaverso funciona?
O termo “metaverso” apareceu pela primeira vez em um livro de ficção científica no ano 1992, o Snow Crash (Nevasca), de Neal Stephenson, que fazia referência a um mundo virtual formato em 3D e habitado por avatares de pessoas reais.
A obra retrata a história de “Hiro Protagonist”, um entregador de pizza, que vive uma vida paralela em um mundo virtual (já chamado naquela época de metaverso) como um samurai.
Quase 20 anos depois, em 2011
Ernest Cline trouxe novamente o tema no romance futurista Ready Player One, ou Jogador Número 1. A trama foi bem aceita pelo grande público e ganhou uma versão cinematográfica pelas mãos de ninguém menos que Steven Spielberg em 2018.
Em Jogador Número 1, os personagens vivem em um mundo distópico que se refugiam em um local chamado OASIS, um simulador virtual que permite serem o que quiserem.
Nesse sentido, o metaverso tem como objetivo principal fazer a fusão entre os mundos real e virtual através de tecnologias como realidade virtual ou aumentada e até mesmo hologramas. São geralmente retratados em obras de ficção como um ambiente muito diferente do real, colocando essa realidade distante das pessoas.
O metaverso não é só um simulacro da realidade, mas é quase um complemento dela. Obviamente que permite a criação de espaços e situações diversas às reais, mas, em alguns cenários, promove uma extensão, potencializando ações e aspectos da vida dos usuários.
Em um jogo, por exemplo, o gamer pode vivenciar experiências cada vez mais reais, aumentando sua motivação em permanecer naquele cenário, promovendo engajamento e gerando lucros para as empresas desenvolvedoras.
Já em áreas como a educação, o metaverso expande os limites geográficos, oferecendo simulações de ambientes ou laboratórios, dando aos alunos percepções ainda mais realísticas do conteúdo estudado.
No caso dos e-commerces, a ideia é melhorar a experiência de compra, possibilitando experimentar os produtos de forma virtual e totalmente remota, expandindo os limites territoriais e aumentando o alcance das marcas.
Imagine ainda essa hipótese: a possibilidade de recriar um ambiente como a pré-história, por exemplo, para pesquisar, projetar e entender comportamentos e características daquele período que podem impactar a vida moderna.
O metaverso ainda é um território inexplorado, porém com potencialidades infinitas. A ciência e a tecnologia são, provavelmente, as áreas que mais têm a ganhar com a expansão do metaverso.
Ou seja, o objetivo é que as pessoas não sejam apenas observadores dentro do ambiente virtual, mas que façam parte dele.
O conceito do metaverso divide opiniões: uns o vêem como uma evolução da internet, outros como um risco à privacidade. A implantação dessa utopia, no entanto, ainda depende do amadurecimento de algumas tecnologias, como o próprio 5G.
Primeiras tentativas de estabelecer o metaverso
Ao longo dos últimos 20 anos algumas iniciativas já tentaram criar algo semelhante a um metaverso. Um dos principais exemplos é o Second Life, game lançado em 2003 pela empresa americana Liden Lab.
A plataforma leva o usuário a um ambiente virtual 3D que simula a vida real. Ao entrar, é permitido criar avatares e socializar uns com os outros.
Na época do lançamento, essa evolução dos jogos atraiu milhares de gamers, mas não conseguiu unir completamente os mundos real e virtual. Isso porque o projeto não foi capaz de criar uma economia digital, na qual as pessoas pudessem ganhar dinheiro ou mesmo ter uma propriedade virtual. Essa é a grande diferença para a realidade atual, já que vivemos em um mundo com economia quase que totalmente digitalizada.
Plataformas como o Roblox, Fortnite e Minecraft têm suas pedras fundamentais no metaverso, explorando e difundindo certos elementos desse novo universo.
Nesses jogos, os usuários criam seus próprios personagens, participam de missões, se relacionam uns com os outros, vão a eventos e, principalmente, investem em elementos para potencializar seu jogo, fazendo dinheiro real circular no ambiente virtual.
Recentemente, a cantora norte-americana Ariana Grande fez um show dentro do Fortnite, por exemplo.
Esses foram alguns exemplos que provavelmente estejam próximos da sua realidade através de alguma criança na sua família, mas lembramos que são ilustrativos para que entenda os mecanismos e os conceitos mais aprofundados que queremos te apresentar sobre o metaverso a partir desse momento.
A proposta do metaverso vai além dos jogos online. A ideia fundamental é que todos os aspectos da “vida real” da pessoa – lazer, trabalho, relacionamentos, estudo e outros – sejam uma experiência de imersão através do digital e vice-versa.

Onde entram as criptos nesse contexto?
A blockchain (banco de dados público e descentralizado), as criptomoedas e os NFTs (sigla em inglês para tokens não fungíveis) dão suporte para o metaverso. Por meio delas, é possível movimentar valores e realizar o registro de propriedades virtuais.
A ideia original é que o metaverso tenha uma economia virtual própria e que as pessoas possam trabalhar, adquirir coisas, fazer reuniões diversas e ter, de fato, uma vida online.
A blockchain e as ferramentas que a permeiam – criptos, NFTs e outros – são essenciais para a construção dessa nova realidade.
A blockchain, por exemplo, deve estruturar a base da economia dentro do metaverso, permitindo a criação de registros imutáveis sem a necessidade de uma terceira parte, ou seja, uma ferramenta bastante útil dentro da governança no metaverso.
Nesse contexto, entram as criptomoedas, usadas como os meios de troca nas plataformas. Já existem projetos em andamento que usam cripto, como os games Decentraland (MANA), The Sandbox (SAND) e Axie Infinity (AXS).
(Imagem do The Sand Box)
Os NFTs contribuem para o registro e negociação de propriedades e itens virtuais. Os tokens não fungíveis são certificados digitais cuja autenticidade pode ser feita por qualquer um, mas que ninguém pode alterar.
A economia cripto do metaverso
Uma economia específica para o metaverso já é uma realidade construída em tecnologia blockchain, com produtos e serviços disponíveis.
- Música – o metaverso se tornou um facilitador eficiente de promoção musical, especialmente em tempos de isolamento social, muitos cantores e djs entenderam a potencialidade desse ambiente para o contato com seus fãs. Muitos estão investindo na realização de eventos em espaços digitais e lucrando com isso.
- Cassino – esses espaços já podem ser encontrados no metaverso, onde os usuários fazem apostas em criptomoedas.
- Arte – os artistas descobriram que o metaverso é um excelente espaço para comercializarem suas obras de arte registradas em NFTs. Casas físicas de renome, como Sotheby’s, já estão aproveitando esse nicho.
Quais tecnologias estão envolvidas na estrutura do metaverso?
Para que o metaverso seja vivo, é necessário o uso de uma série de tecnologias. Veja quais são:
Realidade Virtual
Conhecida por sua sigla em inglês, a “VR” – Virtual Reality – um espaço em 3D criado por softwares.
Para fazer parte dessa simulação da realidade, os usuários precisam de equipamentos como computadores, óculos de realidade virtual, fones de ouvido e outros. Não é difícil encontrar consoles e games que já usam essa tecnologia e se valem desses acessórios.
Realidade Aumentada
Diferente da VR, que coloca o usuário no mundo virtual, a AR (sigla em inglês para Realidade Aumentada) atua de forma oposta: transporta os dados virtuais para o mundo real, como o game Pokémon Go.
Quais as aplicações do metaverso?
Como já mencionado anteriormente, o metaverso pode ser aplicado nas mais diferentes áreas, depende somente da intenção.
Parques temáticos, por exemplo, apostam alto em simuladores que colocam os visitantes em cenários diversos, vide os parques da Disney.
Na medicina, as novidades são constantes: cirurgias à longa distância, roupas que ajudam a medir níveis do corpo humano, cursos nos quais os alunos não precisam de corpos reais para pesquisa e muitas outras.
O mundo corporativo também está bebendo dessa fonte com reuniões, interação entre colaboradores e até mesmo capacitações, tudo feito à longa distância. Inclusive, as ferramentas do metaverso foram essenciais para as grandes empresas operarem durante o home office imposto no período mais severo da pandemia da COVID-19.
Mesmo com toda essa versatilidade, é nos games e nas artes que o metaverso encontra sua maior força e, mais, promete boas alternativas de investimento.
Nos jogos, o metaverso é responsável pela experiência imersiva, mas os itens necessários para os games (armas, ferramentas, vestimentas, acessórios, construções, entre outros) são tokens não-fungíveis (NFTs), cujo valor disparou nos últimos meses.
Os NFTs também se destacaram nas artes, especialmente pelo fato de garantirem a autenticidade das obras e a exclusividade da propriedade, o que agrega ainda mais valor às obras.
Isso significa uma verdadeira revolução na relação comercial no mundo artístico, uma vez que não é mais necessário ter um intermediário para a negociação de obras.
A distribuição das peças também é impactada nesse sentido, já que esse material ou conteúdo pode ser distribuído inúmeras vezes, mas a original fica preservada e a sua autenticidade garantida por smart contract, ainda que para alguns artistas, quanto mais disseminada, melhor, pois a obra se torna conhecida e, consequentemente, mais valorizada.
O que são NFTs?
Os tokens não fungíveis, ou NFTs, e o metaverso estão conectados. Para entender essa relação, você precisa saber o que é “fungível” ou aquilo que se mistura.
Tome como exemplo uma cédula de dinheiro de um determinado valor que pode ser trocada por outra igual, de mesmo valor, assim como 1 bitcoin pode ser trocado por outra unidade de bitcoin, de igual valor.
No que diz respeito aos tokens não fungíveis, onde essa troca não tem correspondência. Ou seja, cada item é único.
Um smart contract garante essa exclusividade, o que assegura que não existe outro igual. Dessa maneira, quando um usuário adquire um NFT de um game, ele passa a ser o único proprietário, valorizando esse token para os outros jogadores.
Isso vale para uma obra artística em NFT, onde o usuário passa a propriedade da produção original.
As NFTs são meios que garantem a autenticidade das compras e transações no metaverso.
Um segmento bastante promissor no metaverso é o imobiliário. A comercialização de terrenos no metaverso está se solidificando pois é uma estratégia em crescimento para ganhar dinheiro no mundo real. O setor já movimenta mais de US$ 100 milhões por semana.
Para você que ainda não tem familiaridade com esse ambiente, saiba que um terreno no metaverso permite ascensão em jogos, construção de espaços para eventos virtuais, locais para atendimento virtual e muito mais.
Além disso, dependendo do uso desse território, assim como na vida real, o proprietário do espaço pode lucrar. Nesse cenário, os NFTs são peças chave para garantir que os contratos sejam autênticos e válidos.
Como investir no Metaverso
Há diversas formas de investir no metaverso, contudo, é necessário ter o mínimo de conhecimento nas tecnologias já apresentadas e no mercado cripto.
- Criptomoedas – uma das formas populares de aderir a um metaverso é através da compra de cripto. Decentreland (MANA), Sandbox (SAND) e Enjin Coin (ENJ) são algumas das mais utilizadas para isso. Normalmente, o usuário que já tem algum conhecimento em investimentos em cripto recorre a uma exchanges para realizar a transação.
- Fundos de investimentos – uma outra maneira de entrar no ambiente virtual é através da aplicação em fundos de investimento relacionados ao metaverso. Em dezembro de 2021, por exemplo, a gestora brasileira Vitreo lançou o “Vitreo Metaverso”, investimento em ações ligadas ao setor.
- Terrenos virtuais – caso queira, você também pode investir em terras virtuais no metaverso em plataformas especializadas, podem comercializá-las como quiser. Em novembro, um terreno virtual de 566 metros quadrados de um game do metaverso foi vendido por US$ 2,4 milhões em criptomoedas.
Assim como na vida real, o lance com os terrenos virtuais é que eles valorizam de acordo com o seu investimento neles. Dependendo da área construída e o tipo de estrutura disponível, você pode capitalizá-lo com vendas e locações.
- Tokens diversos do metaverso – roupas, acessórios, veículos, itens de colecionador, obras de arte, entre outros, podem ser tokenizados;
- Investindo em ações de empresas que apostam em soluções e funcionalidades do metaverso, tais como as do Facebook/Meta;
Quais são as criptomoedas impulsionadas pelo metaverso
Existem algumas criptomoedas cujo uso está bastante associado ao metaverso. Algumas delas são as seguintes:
Descentraland (MANA)
Em um ambiente virtual dentro da blockchain do Ethereum (ETH), a MANA atua como uma criptomoeda nativa. O projeto parece ter sido bem aceito pelo mercado e diversas marcas já estão se mostrando interessadas em criar negócios digitais. É considerado um dos principais representantes do metaverso.
Enjin Coin (ENJ)
Nessa plataforma é possível criar produtos na blockchain e NFTs sem taxas. O ENJ é o token principal. Em 2021, o projeto recebeu US$ 100 milhões para apoio a ações dentro do metaverso.
Sandbox (SAND)
É um ambiente em que os usuários jogam, constroem casas e têm uma vida virtual. Em um primeiro momento aproveitou a febre do Minecraft, mas evoluiu e se estruturou no universo da blockchain e das criptomoedas.
Gala (GALA)
Suporta toda uma cadeia de jogos play-to-earn (jogue para ganhar) para blockchains. O GALA é o token nativo. O primeiro título lançado pela plataforma foi o Town Star, um simulador de um ambiente rural. Outros games são Echoes of Empire, Mirandus, Spider Tanks e Fortified.
Axie Infinity (AXS)
Pokemon Go, conhece né?! Então, ele ajudou a popularizar o conceito de play-to-earn, onde os players criam personagens e batalham com monstros ou outros jogadores. O AXS é o token de governança desse tipo de game e dá aos detentores poderes de decisão dentro de todo o ecossistema de interação.
Empresas que apostam no metaverso
Não foi só o Facebook que entrou de cabeça nessa nova onda. Empresas de diversos segmentos estão apostando na potencialidade do metaverso.
A Nvidia, por exemplo, anunciou o NVIDIA Omniverse, plataforma colaborativa de simulação. Nela, profissionais das artes em geral podem trabalhar juntos na construção de metaversos.
No início de 2021 a Microsoft colocou o Mesh no mercado, uma plataforma que permite a realização de reuniões com hologramas, além de avatares 3D para o Teams, ferramenta de comunicação da empresa.
A gigante dos esportes Nike anunciou a Nikeland, uma plataforma dentro do Roblox, além de adquirir uma startup especializada em NFTs de moda.
Instituições brasileiras também estão entrando nesse mundo e o Banco do Brasil lançou no final de 2021 uma experiência virtual no servidor do GTA (Grand Theft Auto). No jogo, o usuário pode abrir uma conta na instituição bancária para seu personagem ou trabalhar na agência.
Futuro da internet
Especialistas acreditam que o metaverso é uma peça fundamental da web 3.0, que é caracterizada como uma internet mais imersiva, descentralizada e aberta.
Atualmente, o mundo está na web 2.0, que tem como principal característica ser um ambiente de interação mediado por mídias sociais.
A web 1.0, que teve seu “boom” entre 1999 e 2004, é considerada a “pedra fundamental” da tecnologia, e é lembrada pelas páginas estáticas. Por meio dela, as pessoas puderam ter um contato mais próximo com o ambiente online.
Críticas ao metaverso
Nem tudo são flores nesse universo em ascensão. Alguns estudiosos colocam em cheque certos conceitos relacionados ao metaverso, como a centralização, privacidade e o vício.
- Centralização – os conceitos gerais e regras do metaverso ainda estão em construção, mas uma coisa é certa: os entusiastas defendem que ele seja descentralizado e aberto a todos. Mas a coisa não é bem assim. Com a entrada de empresas como Facebook e Microsoft na jogada, a tendência é que certos controles sejam criados.
- Privacidade – devido a uma possibilidade de centralização do metaverso, a questão da privacidade aparece nas discussões. Se empresas como Facebook e Google que administram uma infinidade de dados de usuários estão nessa mesa de investimentos, as diretrizes terão que atender a necessidade de mecanismos de segurança dessas informações. Inclusive, essa é uma grande preocupação, especialmente para o Facebook que já vem amargando o pagamento de multas milionárias nos últimos anos em questões relacionadas à privacidade.
- Vício – Outro ponto que tem gerado críticas é o fato de o metaverso ser um tipo de tecnologia que vicia ao passo que as pessoas se desconectam da realidade.
O fato é que você sendo profundo conhecedor de tecnologia ou não, você já faz parte do metaverso, de forma consciente ou não. Contudo, é interessante saber como os processos funcionam para ter a liberdade de escolher as melhores práticas dentro desses espaços.